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quarta-feira, 7 de março de 2012

Sujeito Oculto

Jessier Quirino vai realizar um protesto contra o barulho dos vários sons no carnaval de Itabaiana. Quando li a notícia e vi ele pedindo para organizar os sons do carnaval achei que era mais uma de suas piadas. Quem sabe depois alguém pode chamá-lo para criar filas para a multidão do carnaval de Olinda? E, em seguida, como desafio maior, pedir para que ninguém solte mais bombas e foguetões nas Festas de São João? Amazan, Oliveira de Panelas, Beto Brito e Adeildo Vieira, como não são populares nas caixas de som, apoiam a iniciativa. 

É mais um sinal de que estes artistas, que comumente trabalham com questões telúricas, cada vez mais se afastam da realidade humana das cidades do interior paraibano. É preciso um carro de dezenas de decibéis para finalmente compreenderem em que estágio cultural está a sociedade como um todo e que nem toda a Paraíba é a de José Lins do Rego, que por sinal era muito pior. Pensei que era senso comum o fato de que se todos os sons acima da média forem calados, nunca mais haverá uma festa no interior.
Além do mais, fico imaginando o motivo que leva o nosso amigo poeta, tão ligado à um regionalismo, somente agora entender que leis no interior, em sua maioria, não funcionam, seja em relação a uma vítima de gangue, um atropelamento por motociclista bêbado ou um assédio moral de pessoas em cargos políticos. Há muito tempo essa é a civilidade da Paraíba.

O ato público de Jessier Quirino é também um sinal de que os protestos sérios e politizados se extinguiram. Não é a sobre a polícia conivente com os transgressões ou a falta de capacidade dos políticos locais de organizar festas populares quem devem ser alvos do protestos e pressões. A meta é atingir um sujeito oculto, sabe-se lá qual, igual a esses pseudo-protestos virtuais ou aquelas ridículas passeatas pela paz. Os artistas paraibanos lembram os estudantes do Centro Popular de Cultura da Une, que achavam que sabiam tudo e, por isso, queriam organizar a classe trabalhadora para uma revolução cultural. É a civilidade da Paraíba.

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